terça-feira, 24 de junho de 2008

Pensando em Coisas


Pensei em lhe escrever,
Fazer poesia de labaredas,
Incendiar o mundo em palavras,
Fazer fumaça do que não era nada.
Pensei em lhe decantar
E depois encantar as águas,
Lavar a alma do povo,
Sairmos cantando, em coro:
“Somos um povo novo,
Um povo que anda nu e cospe no linho,
Que se desespera, chora, reclama e protesta,
Que faz das casas a morada de todos os homens,
Um povo de artistas, intelectuais e metalúrgicos,
Um povo de gente...”

Pensei em fugir contigo,
Ser um pouco mais banal,
Nos divertirmos nas costas dos ricos,
Fazermos à moda “robin wood”.
Pensei em aviões de papel,
Fazer milhares, assim, sem motivo,
Pescar pneus velhos
E lhe cantar meu coração:
“Eu sou um homem novo,
Reflexo fiel e náufrago de um povo,
Eu me desespero, choro, reclamo e protesto,
Faço de meu corpo, seu alento mais fiel,
Brinco de artista, intelectual e sonhador,
Ainda não sei quem sou...”

Pensei em lhe seguir,
Distribuir mel pelo mundo,
Sentir o calor dos homens
E o frio de seus amores.
Pensei em lhe amar,
Até perceber que não sei o que quero,
Penso em muitas coisas,
Mas admito que o faço
Pelo simples prazer de pensar!!!

Guernica


"Gritos de crianças,
Gritos de mulheres,
Gritos dos pássaros,
Gritos das flores,
Gritos das árvores e das pedras,
Gritos dos tijolos,
Dos móveis,
Das camas,
Das cadeiras,
Dos cortinados,
Das panelas,
Dos gatos e do papel,
Gritos dos cheiros,
Que se propagam uns após outros,
Gritos do fumo,
Que pica nos ombros,
Gritos,
Que cozem na grande caldeira,
E da chuva de pássaros
Que inundam!!!"


(Pablo Picasso)

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Quero


E de repente,
No meio do nada anoitece,
Os homens se entreolham
E estranham o noturno meio-dia.
E há um cheiro forte,
Como a força de um coração destronado,
Como as águas que banham as pedras,
E é um cheiro de hálito queimado
Numa viagem de inúmeras medéias.
A culpa é de quem renunciou à arte
Para viver uma vida cerebral,
A culpa é de quem vê vida
Na morte do trabalho braçal.
Mas chega de rimas!!!
Elas não conseguem mostrar
Meu desanimo frente chaminés fumegantes,
Meu coração ao ver amores distantes.

Ah, lirismo maldito,
Quando foi que me tornei um poeta tão sentimental???
Misturo os assuntos como se fossem um só...
Quero respirar,
Quero lutar,
Quero amar,
Quero voar.
Pois,
Demasiado curta é a vida!!!