É tanto grito contido,
Tanto gesto corrompido
Nesta natureza morta.
Este Estado falido
Vive treinando o ouvido
pra escutar atráz da porta.
Já é tanto livro lido,
Tanto texto redigido,
Vejam que menina torta,
Não vai arranjar marido,
Vai viver de comprimido,
Ser enterrada numa horta.
Valha-me deus
Valha-me deus
Lido foi o relato,
O mais puro retrato
De uma sociedade morta,
A notícia de maltrato,
O "glamour" do seu sapato,
A inteligência de uma porta.
A prisão por desacato,
Comprovação, de fato,
De uma sociedade torta.
Está reunido o aparato
Pra consumação do ato
De edificar a sua horta.
Valha-me deus
Valha-me homem
A luta árdua de um plebeu
Reivindicando o que é seu
Até que a vida esteja morta
É como subir ao coliseu,
Beijar a boca de Romeu
E ir correndo até a porta.
A esperança adoeceu,
Fraquejou, quase morreu,
Acabou ficando torta,
Mas se percebo quem sou eu,
Filho pagão de um deus hebreu,
Pego os minérios de minha horta.
Valha-me homem
Valha-me deus
O homem , terno recusou
Endiabrado, te acusou
De deixar a luta morta,
O mundo inteiro então dosou
O que a menina então usou
Como sendo uma outra porta,
E a menina abusou,
Feriu e arrasou
Esta humanidade torta,
E ela disse então "eu sou
A única que ousou
Ser parte da própria horta".
ido-ato-eu-sou
e do ato eu sou
Valha-me homem
Valha-me homem!!!