terça-feira, 25 de março de 2008

Valha-me (e do ato eu sou)


É tanto grito contido,
Tanto gesto corrompido
Nesta natureza morta.
Este Estado falido
Vive treinando o ouvido
pra escutar atráz da porta.
Já é tanto livro lido,
Tanto texto redigido,
Vejam que menina torta,
Não vai arranjar marido,
Vai viver de comprimido,
Ser enterrada numa horta.

Valha-me deus
Valha-me deus

Lido foi o relato,
O mais puro retrato
De uma sociedade morta,
A notícia de maltrato,
O "glamour" do seu sapato,
A inteligência de uma porta.
A prisão por desacato,
Comprovação, de fato,
De uma sociedade torta.
Está reunido o aparato
Pra consumação do ato
De edificar a sua horta.

Valha-me deus
Valha-me homem

A luta árdua de um plebeu
Reivindicando o que é seu
Até que a vida esteja morta
É como subir ao coliseu,
Beijar a boca de Romeu
E ir correndo até a porta.
A esperança adoeceu,
Fraquejou, quase morreu,
Acabou ficando torta,
Mas se percebo quem sou eu,
Filho pagão de um deus hebreu,
Pego os minérios de minha horta.

Valha-me homem
Valha-me deus

O homem , terno recusou
Endiabrado, te acusou
De deixar a luta morta,
O mundo inteiro então dosou
O que a menina então usou
Como sendo uma outra porta,
E a menina abusou,
Feriu e arrasou
Esta humanidade torta,
E ela disse então "eu sou
A única que ousou
Ser parte da própria horta".

ido-ato-eu-sou
e do ato eu sou

Valha-me homem
Valha-me homem!!!

2 comentários:

Anônimo disse...

Nossa, Vi!
Me arrepiou esse ein... Muito bom MESMO =D

"A menina fazer parte da horta" -> isso me fez refletir.

fato.
saudades!

Parabéns!
te amo, amigo.

Marô Zamaro disse...

E mais um ápice de puro talento literário/musical. haha

Não sei se elogiei o texto o suficiente naquele dia, mas é estupefante! (mais uma palavra deliciosa! haha)

Parabéns, Vi. Acertou a mão de novo!
Um verdadeiro "Chef" da poesia ;)